Juros Compostos: O guia completo com exemplos e simulador

Susana Pedro Editor: Susana Pedro

Os juros compostos podem ser a chave para aumentar o teu dinheiro ao longo do tempo. Com o poder dos juros sobre juros, podes fazer o teu investimento crescer de forma exponencial. Sabe como neste artigo!

Juros compostos: saber tudo

Se já leste qualquer artigo sobre finanças, certamente te cruzaste com a expressão juros compostos. É um conceito simples — e ao mesmo tempo o mais transformador quando falamos de poupança e investimento a médio/longo prazo. Aqui vais ter tudo: definição, diferenças com juro simples, como tirar partido na prática, regras úteis, um simulador mental (com fórmulas) e ainda o enquadramento fiscal e legal em Portugal.

O que são os juros compostos e a capitalização dos juros

Capitalizar juros significa que os juros ganhos num determinado período se somam ao capital e passam também a render nos períodos seguintes. Ou seja, tens juros sobre o capital inicial e sobre os juros já obtidos — os tais “juros sobre juros”.

Isto é diferente do juro simples, onde os juros são sempre calculados apenas sobre o capital inicial (não se acumulam ao capital para produzir novos juros).

Um ponto legal importante: a capitalização (ou seja, a periodicidade em que os juros são adicionados ao capital) e as regras sobre como isso pode ser feito por instituições financeiras estão reguladas em Portugal — ver Decreto-Lei n.º 58/2013, que regula, entre outras coisas, a capitalização de juros e a mora.

Imagina que os juros são capitalizados mensalmente — isso dá (quase sempre) um resultado melhor que capitalizar uma vez por ano à mesma taxa nominal.

Como distinguir Juro Simples de Juro Composto?

É fundamental perceber a diferença entre juro simples e juro composto para saber onde aplicar o dinheiro.

  1. Juro Simples – O juro é calculado apenas sobre o montante inicial (capital). Exemplo: se investes 1.000 euros com uma taxa de juro de 5%, vais ganhar 50 euros por ano, sempre sobre os 1.000 euros.

  2. Juro Composto – O juro é calculado sobre o capital mais os juros acumulados. Exemplo: no mesmo cenário de 1.000 euros, o juro é de 5%, mas agora ganhas juros sobre 1.050 euros no segundo ano, depois sobre 1.102,50 euros, e assim sucessivamente.

O juro composto permite maior crescimento, especialmente a longo prazo.

Fórmula dos juros compostos: passo a passo

A fórmula clássica é a seguinte.

A fórmula é:

M = C x (1+ r/n)^nt

Onde:

  • M é o montante final,

  • C é o capital inicial,

  • r é a taxa de juro,

  • n é o número de vezes que o juro é aplicado por ano,

  • t é o tempo em anos.

Exemplo:

Para um investimento de 1.000 euros a 5% de juro anual, e os juros são aplicados mensalmente (n = 12), durante 3 anos, o cálculo seria:

M = 1000 x (1 + 0,05/12) ^12 x 3

M = 1000 x (1 + 0,004167) ^36

M = 1000 x (1,16147)

M = 1161,47

Portanto, o montante final ao cabo de 3 anos seria aproximadamente 1.161,47€.

Para comparar, podes confrontar este valor com o de um juro simples:

1000+3×(1000×0,05)=1.150,00€

No caso de capitalização anual: 1000×(1+0,05)3=1.157,625 €

Vês? em 3 anos a diferença é pequena, mas com horizontes mais longos cresce muito.

Juros Compostos com Aporte Mensal

Quando adicionas aportes mensais (ou seja, contribuições regulares), os juros compostos tornam-se ainda mais poderosos. Para fazer isto, além do capital inicial, vais adicionando novas quantias todos os meses, e os juros são calculados tanto sobre o capital inicial quanto sobre os aportes e os juros acumulados até ao momento.

Juros Compostos com Aporte Mensal Fórmula

A fórmula para calcular os juros compostos com aporte mensal é um pouco mais complexa:

Fórmula de juro composto com aporte mensalOnde:

  • i = r/n (taxa por período),

  • N = n x t (número total de períodos),

  • PMT = aporte periódico (por exemplo, mensal).

Por exemplo:

Se investires 1.000 euros iniciais com uma taxa de 5% e adicionares 100 euros por mês durante 5 anos, ao fim desse período terás aproximadamente 8 083,97 euros (isto inclui o capital inicial, aportes e juros compostos acumulados).

Converter taxa nominal para taxa efetiva

Se te dão uma taxa nominal anual (por exemplo 5% a/a) mas com capitalização mensal, a taxa efectiva anual (EAR) é:

Converter taxa nominal para taxa efetiva

Ex.: 5% nominal, n = 12 → EAR ≈ 5,116%.

Isto significa que, com a capitalização mensal, o rendimento real num ano é ligeiramente superior a 5% — não por mágica, mas porque os juros ganham juros várias vezes por ano.

Onde investir para aproveitar a capitalização?

Investir com juros compostos é uma das formas mais eficazes de criar riqueza ao longo do tempo. Entre as principais opções estão:

  • Fundos de investimento – fundos que reinvestem dividendos permitem que a base cresça, atenção às comissões.

  • Contas poupança de longo prazo – alguns bancos capitalizam mensalmente ou trimestralmente, atenção às taxas e à liquidez.

  • Certificados de aforro – emitidos pelo IGCP, as taxas são revistas periodicamente e dependem da série (A, B, C...F). Como exemplo concreto, as taxas das séries recentes (de 2025) estiveram na ordem de 1–2% ao ano para novas subscrições (consultar IGCP para a série e mês exactos).

  • Planos Poupança Reforma (PPR) – permitem capitalização e, em muitos casos, têm benefícios fiscais que incentivam o contributo regular. Os benefícios concretos dependem do teu escalão de rendimento e da idade; verifica as regras actuais e limites.

Em todos os casos, o segredo está em reinvestir os ganhos e deixar o tempo atuar.

Simulador de investimento: como usar?

Se queres testar cenários rápidos:

  • No Excel / Google Sheets usa a função FV:

    • =FV(taxa; nper; pmt; pv; tipo)

    • Exemplo: para o caso acima (5% anual, mensal): =FV(0.05/12; 60; -100; -1000) → vai dar o montante final (usa sinais negativos conforme a convenção do Excel).

Dica: faz sempre dois cenários — com e sem impostos/fees — para teres noção da diferença real.

Imposto sobre os juros (fiscalidade em Portugal) — o essencial

Em Portugal continental, por defeito muitos rendimentos de capitais (juros, dividendos, certos ganhos) são sujeitos a retenção na fonte à taxa liberatória de 28%; existe a possibilidade de optar pelo englobamento no IRS, o que em alguns casos reduz o imposto dependendo do escalão do sujeito. (Isto costuma aparecer em informação prática dos bancos e guias fiscais.) Associação Mutualista Montepio+1

Alguns pontos práticos:

  • A retenção usualmente é feita pela entidade pagadora (o banco retém e entrega ao Estado).

  • Podes, em certos casos, optar por englobar (ou seja, juntar esses rendimentos ao resto dos teus rendimentos), o que pode ser vantajoso se a tua taxa média for inferior a 28%. Há casos em que o englobamento reduz o imposto pago. CGD

  • Existem regras especiais para residentes nas Regiões Autónomas e para situações de não residentes — e também regras específicas para certos produtos (ex.: algumas obrigações, produtos internacionais, criptos). Para casos concretos, consulta sempre um contabilista ou a Autoridade Tributária.

Passo a passo: fazer uma poupança com juros compostos

O principal é começar cedo — o tempo é o maior potenciador dos juros compostos. Começar aos 18 anos é melhor que começar aos 35. Mas na mesma lógica começar aos 35 anos é muito melhor que começar apenas aos 45. O melhor momento é agora, independentemente da tua idade e situação.

Define um objetivo, este pode ser poupar para a reforma, conseguir o valor de entrada de uma casa, ou popular o teu fundo de emergência. Ter um objetivo (ou vários bem delimitados) ajuda a manter disciplina.

Escolhe um veículo que capitaliza. Tanto pode ser um PPR para longo prazo, como fundos de acumulação, certificados de aforro para curtos ou médios prazos, ou outro produto qualquer que te faça sentido e sobre o qual queiras saber mais e estar envolvido. Tem atenção a veículos que têm grande potencial de ganhos mas são também mais arriscados, como criptoativos. É importante ter uma base de conhecimento antes de investir.

Automatiza aportes — instaurar no banco uma ordem permanente para debitar um determinado valor por mês evita esquecimento e imposições emocionais.

Não te esqueças de reduzir custos e impostos: as comissões e impostos corroem a capitalização. Para tal, procura opções com taxas baixas e planeamento fiscal (por exemplo, avaliar se faz sentido englobar).

Cada levantamento interrompe a capitalização, o que diminui o efeito bola-de-neve. Portanto é importante nunca levantar os ganhos até atingires os objetivos. A excepção está, claro, caso necessites do dinheiro. Por último, reavalia periodicamente, ajustando percentagens consoante a idade, objetivos e tolerância ao risco.

A regra de 72 e como usá-la

Uma forma rápida de estimar quantos anos demora o capital a duplicar:

anos ≈ taxa 72 / taxa (% a.a.)

Ex.: a 6% ao ano → 72 ÷ 6 = 12 anos. A 3% → 72 ÷ 3 = 24 anos. É um atalho, não substitui os cálculos exactos, mas ajuda na intuição.

Prós e contras dos juros compostos

Vantagens

  • Crescimento exponencial ao longo do tempo.

  • Reforça hábitos de poupança (se fizeres aportes regulares).

  • Excelente para objetivos de longo prazo (reforma, educação dos filhos, compra de casa).

Desvantagens ou riscos

  • No curto prazo os ganhos são modestos — exige paciência.

  • Taxas, comissões e impostos reduzem o ganho líquido.

  • Alguns produtos têm menor liquidez ou penalizações por levantamento (exemplo: PPR).

  • Risco de mercado (fundos, ações) — juros compostos não anulam risco de perda de capital.

Erros e armadilhas comuns (e como os evitar)

  • Não considerar impostos e comissões — subtrair sempre esses custos nas simulações.

  • Escolher só pela taxa nominal — atenção à periodicidade de capitalização (mensal vs anual) e à comissão.

  • Mudar frequentemente — movimentos constantes prejudicam o efeito composto, a disciplina é mais valiosa que timing perfeito.

  • Fazer resgates prematuros — quebra o ciclo de capitalização e diminui muito o retorno a longo prazo.

Exemplos práticos extra

Se começares com 500 euros e adicionares 50 euros por mês a 4% anual durante 15 anos (capitalização mensal), o montante final será cerca de 13 214,68 euros. Isto mostra que mesmo aportes pequenos regulares, com tempo, produzem bastante valor.

Se preferes testar múltiplos cenários, usa FV no Excel/Sheets ou simuladores de juros compostos como o da Rankia, por exemplo.

Tem atenção que nem todos os produtos financeiros oferecem juros compostos, sendo importante consultar as condições com o teu banco. Certifica-te de que lês os contratos e as taxas aplicáveis, conforme regulado pelo Banco de Portugal (Decreto-Lei n.º 58/2013, de 8 de maio).

Seja para uma reforma tranquila ou para realizar outros projetos, a chave é começar cedo e deixar o tempo fazer o resto.


Susana Pedro
Susana Pedro
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