Inflação 2024: o que é e porque é que está a estabilizar?

A inflação 2024 continua a preocupar famílias e empresas. Sabe o que significa este conceito e o que está por trás desta subida de preços.

Inflação crédito habitação

Depois de um disparo nos preços desde 2022, com um elevado pico em 2023, a inflação em Portugal para 2024 tem sido revista em alta, com a previsão de atingir os 2% até 2026 segundo o Banco de Portugal. Um cenário que leva muitos a perguntar: o que é exatamente a inflação? Quais são as consequências desta escalada de preços? E o que justifica a subida e descida? Descobre tudo sobre este conceito, como te afeta e como te podes proteger.

O que é a inflação?

Os preços dos bens e serviços estão em permanente atualização. É normal, numa economia de mercado, em que a procura e oferta estão em constante diálogo. Um dia, uma dúzia de ovos custa “x” e no dia a seguir esse preço já é diferente.

O mesmo acontece com os combustíveis, automóveis, artigos de tecnologia, empréstimos e muitos outros bens essenciais. Isto por si só, não significa que exista inflação nem é motivo de preocupação.

No entanto, se o preço de muitos bens ou serviços aumentar ao longo de um período longo, como um ano, diz-se que a economia está inflacionada. É o que aconteceu com a inflação em 2022. Numa situação como esta, o valor do dinheiro desce, ou seja, com um euro compra-se menos do que anteriormente, e o poder de compra dos consumidores diminui.

Em Portugal e no resto da zona Euro, a inflação esteve em máximos históricos. Em janeiro de 2024, o nosso país registava uma inflação de 3,8%. Atualmente, assistimos a uma tendência decrescente, embora lenta. Estes números continuam preocupar consumidores e empresas, pois tiveram impacto no dia-a-dia de milhares de portugueses.

Como é calculada a inflação 2024?

Para compreenderes o significado da inflação, é importante saberes como é calculada. Todos os meses, os observadores do Eurostat recolhem os preços de aproximadamente 700 bens e serviços em Portugal. Este levantamento inclui artigos do dia a dia, como produtos alimentares, bens duradouros como computadores pessoais e máquinas de lavar roupa, e serviços, como cabeleireiros, seguros e renda de casa.

Para cada produto, são analisados vários preços em diferentes estabelecimentos comerciais e regiões. Por exemplo, os preços dos livros têm em conta os diversos géneros de livros (ficção, não ficção, referência, etc.) vendidos em livrarias, supermercados e através da Internet.

Depois, é calculado o preço médio de todos estes produtos (o chamado “cabaz” médio) de acordo com o seu peso no orçamento familiar. Os preços dos produtos em que se gasta mais, tais como a eletricidade, têm mais peso (isto é, uma ponderação maior) do que os dos produtos em que se gasta menos, por exemplo, açúcar ou selos de correio.

Por fim, é determinada a variação dos preços face ao mesmo período do ano anterior, o período homólogo. Por exemplo, os preços de março de 2024 são comparados com os de março de 2023, a partir daqui obtém-se uma percentagem. Se a percentagem for positiva, ocorreu um aumento de preços, ou inflação. Se for negativa, estamos perante uma descida de preços, ou deflação.

Na zona euro, esta comparação toma o nome de “Índice Harmonizado de Preços no Consumidor”, muitas vezes simplesmente designado “IHPC”. O termo “harmonizado” advém do facto de todos os países da União Europeia seguirem a mesma metodologia, o que assegura que os dados relativos a um país podem ser comparados com os dados referentes a outro.

O que causou a inflação 2022 e 2023?

Regra geral, num contexto de crise económica os preços tendem a descer. As famílias consumem menos, o que causa uma diminuição na procura e uma redução dos preços. Por outro lado, quando a economia se encontra em expansão, os preços aumentam. Neste contexto, as famílias tendem a consumir mais, o que aumenta a procura pelos diversos bens e serviços, e o seu preço.

No entanto, existem muitos outros fatores que são determinantes para a atual inflação. A inflação também ocorre quando os preços sobem devido a aumentos nos custos de produção, como matérias-primas. Estes custos adicionais são passados ​​aos consumidores na forma de preços mais altos. É o que aconteceu devido à guerra na Ucrânia e à escalada de preços de cereais, petróleo, fertilizantes ou gás natural.

A inflação também pode ser causada por uma forte procura dos consumidores. Foi o que aconteceu com os preços de produtos essenciais durante o confinamento. Para além de aumentar a pressão na procura, a pandemia também complicou a gestão das cadeias de produção, levando a que a inflação aumentasse tanto pela via da procura como da oferta.

A taxa de inflação na Zona Euro está a diminuir, mas a inflação subjacente está a recuar a um ritmo muito lento. O ponto mais alto desta métrica, que não considera preços mais instáveis, como energia e alimentos não processados, foi de 7,5% em março deste ano e ainda não reduziu nem mesmo um ponto percentual em relação ao máximo.

Quais as consequências da inflação?

A inflação é importante porque significa uma perda de poder de compra real ao longo do tempo. Se não for acompanhada por um aumento dos rendimentos, é equivalente a um corte salarial.

Pensa no dinheiro que tens na tua conta bancária ou em poupanças. Quando os preços sobem, já não consegues comprar tanto com esse montante. Para todos os efeitos, esse dinheiro perdeu valor.

Trabalhadores por conta de outrem ou pensionistas, são os grupos mais vulneráveis à inflação. Enquanto quem gere um negócio pode passar o aumento de custos aos clientes (até um limite), quem tem rendimentos fixos ou poupanças terá mais dificuldade em aumentar as receitas pessoais de forma proporcional.

Com os preços a aumentar, podes até sentir necessidade de cortar nas compras ou recorrer a investimentos mais arriscados para recuperar poder de compra. Situações limite que tornam o controlo da inflação uma das principais prioridades do Banco Central Europeu.

Sabe mais:

Qual a influência da inflação no crédito à habitação?

Num cenário de aumento da inflação, o mercado imobiliário é especialmente afetado. Os constrangimentos nas cadeias de produção e logística afetam os preços dos materiais e construção – da madeira e aço, aos pregos e rebites – e dos serviços relacionados, como a mão de obra e transporte.

Custos que, por sua vez, se repercutem para o consumidor e fazem subir o preço das casas, e dos créditos habitação. A subida da inflação aumenta as rendas dos alugueres, à medida que os possíveis compradores se vêem sem capacidade financeira para comprar propriedades.

Neste casos, quem adquire uma hipoteca de taxa fixa está mais protegido contra a inflação. Nos empréstimos contraídos a taxa fixa, a taxa de juro do empréstimo mantém-se inalterada durante o prazo que tiver sido acordado com a instituição de crédito.

Durante esse período, a prestação mensal mantém-se sempre igual. Isto significa que se as taxas de juro de mercado, por exemplo a taxa de juro Euribor que é afetada pela inflação, continuar a subir, com taxa fixa não se altera.

No caso de quem tem taxa variável, no entanto, a prestação de um empréstimo está indexada à Euribor, o que significa que pode subir.

Atualmente, no contexto do crédito à habitação, essa trajetória de redução da inflação tem um impacto direto nos custos associados aos empréstimos. Com as taxas Euribor, que indexam grande parte dos créditos habitação, a descer desde o final de 2023, os clientes podem esperar alívio nas prestações, especialmente nos contratos a taxa variável. A Euribor a 12 meses, por exemplo, está projetada para descer para valores próximos dos 3% no final de 2024, e continuar em queda para 2,5% até 2026​.

Além disso, as ofertas de créditos a taxa mista continuam a ser uma tendência, proporcionando maior estabilidade para os consumidores ao fixarem uma prestação inicial antes de mudarem para taxa variável. Este tipo de crédito representa a maior parte dos novos empréstimos em 2024, refletindo a procura por maior previsibilidade em tempos de inflação ainda incerta​.


Madalena Alves
Madalena Alves
Content Writer