Depois de um disparo nos preços desde 2022, com um elevado pico em 2023 e 2024, a inflação em Portugal para 2025 tem sido revista em alta, com a previsão de atingir os 2% até 2026 segundo o Banco de Portugal. Um cenário que leva muitos a perguntar: o que é exatamente a inflação? Quais são as consequências desta escalada de preços? E o que justifica a subida e descida? Descobre tudo sobre este conceito, como te afeta e como te podes proteger.
O que é a inflação?
Os preços dos bens e serviços estão em constante atualização. Isto é perfeitamente normal numa economia de mercado, onde a procura e oferta estão sempre em diálogo. Um dia, uma dúzia de ovos custa "x", e no dia seguinte, o preço já pode ser diferente.
O mesmo acontece com combustíveis, automóveis, tecnologia, empréstimos e muitos outros bens essenciais. Estas variações não significam necessariamente que exista inflação, nem são motivo de preocupação por si só.
No entanto, quando o preço de muitos bens e serviços aumenta de forma contínua ao longo de um período mais longo, como um ano, diz-se que a economia está inflacionada. Foi o que aconteceu em 2022, quando enfrentámos níveis históricos de inflação.
O que acontece numa economia inflacionada?
Com a inflação, o valor do dinheiro diminui, ou seja, com um euro compras menos do que compravas anteriormente. Este fenómeno reduz o poder de compra dos consumidores e afeta diretamente o orçamento das famílias.
Por exemplo, produtos como pão, leite ou energia elétrica ficam mais caros, e as pessoas precisam de gastar uma parte maior do rendimento para adquirir os mesmos bens e serviços.
Inflação em Portugal e na zona Euro
Nos últimos anos, a inflação atingiu valores históricos em Portugal e na zona Euro. Em 2022, o impacto foi significativo, levando consumidores e empresas a adaptarem os seus hábitos e estratégias financeiras.
Já em janeiro de 2024, a inflação em Portugal foi de 3,8%, refletindo uma tendência de descida face aos picos anteriores. Para 2025, prevê-se 2,1% de inflação. Apesar dessa redução, a descida tem sido lenta, e os preços continuam elevados, pressionando o orçamento das famílias portuguesas.
Como é calculada a inflação 2025?
Para compreenderes o significado da inflação, é essencial saber como ela é calculada. Todos os meses, o Eurostat e o Instituto Nacional de Estatística (INE) recolhem os preços de aproximadamente 700 bens e serviços em Portugal. Este levantamento inclui desde produtos alimentares do dia a dia até bens duradouros, como computadores e máquinas de lavar roupa, e serviços, como cabeleireiros, seguros e rendas de casa.
Como é feito o cálculo?
Recolha de preços
Para cada produto ou serviço, são analisados vários preços em diferentes estabelecimentos comerciais e regiões do país. Por exemplo, os preços dos livros incluem géneros como ficção, não ficção e referência, vendidos em livrarias, supermercados e lojas online.Cálculo do preço médio ponderado
Os preços recolhidos compõem o chamado “cabaz médio” de bens e serviços. Este cabaz reflete o peso de cada item no orçamento familiar. Produtos essenciais, como eletricidade ou alimentos, têm maior peso no cálculo do que itens menos relevantes, como selos ou revistas.Variação anual (período homólogo)
Compara-se a variação dos preços face ao mesmo mês do ano anterior. Por exemplo, os preços de janeiro de 2025 são comparados com os de janeiro de 2024. Se a variação for positiva, registou-se um aumento de preços (inflação). Se for negativa, ocorre uma descida de preços (deflação).Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC)
Na zona euro, a inflação é medida através do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), que segue uma metodologia padronizada em todos os países da União Europeia. Isso garante que os dados de Portugal são comparáveis aos de outros países.
O que dizem os números de 2025?
Em 2025, Portugal espera registar uma inflação moderada em comparação com os valores elevados de anos anteriores. O Banco de Portugal prevê que a inflação se alinhe com a meta do Banco Central Europeu, estimando uma taxa de 2,1% para 2025. Isto mostrará uma ligeira desaceleração em relação aos 2,4% de média do ano de 2024.
Na zona euro, a média de inflação ronda os 2,7%, aproximando-se da meta de 2% definida pelo Banco Central Europeu (BCE). Embora os preços estejam a subir de forma mais lenta, ainda existem categorias específicas, como energia e alimentação, que continuam a pressionar os orçamentos das famílias.
O que causou a inflação 2022 e 2023?
De forma geral, em cenários de crise económica, os preços tendem a baixar, pois as famílias reduzem o consumo, levando a uma diminuição da procura e à consequente queda nos preços. Em contraste, quando a economia está em expansão, a tendência é de aumento dos preços, já que o consumo cresce, impulsionando a procura por bens e serviços.
Porém, a inflação recente foi causada por uma conjugação de fatores complexos que desafiam esta lógica tradicional.
Uma das causas principais da inflação foi o aumento dos custos de produção. Elementos como as matérias-primas, os combustíveis e o gás natural registaram subidas significativas nos preços, refletindo-se no custo final para os consumidores. A guerra na Ucrânia exacerbou esta situação, provocando aumentos drásticos no preço de produtos essenciais como cereais, petróleo e fertilizantes.
A pandemia de COVID-19 também desempenhou um papel crucial. Durante os confinamentos, observou-se uma forte procura por bens essenciais, o que pressionou os preços. Ao mesmo tempo, as cadeias de produção enfrentaram desafios severos, como atrasos logísticos e dificuldades no fornecimento de matérias-primas, contribuindo para o aumento dos preços tanto pela via da procura como pela oferta limitada.
Embora a taxa de inflação na Zona Euro tenha começado a diminuir, a inflação subjacente reduziu-se a um ritmo lento. O pico desta métrica foi de 7,5% em março de 2023, refletindo aumentos persistentes em categorias mais estáveis de bens e serviços.
Além dos fatores mencionados, as expectativas dos consumidores e das empresas em relação à inflação também contribuíram para que os preços se mantivessem altos. Quando há receios de que os preços continuem a subir, as empresas tendem a ajustar os seus preços e salários para compensar, perpetuando a inflação.
Quais as consequências da inflação?
A inflação é mais do que uma variação nos preços; é uma perda real de poder de compra ao longo do tempo. Se os rendimentos não acompanharem esta subida de preços, a inflação equivale, na prática, a um corte salarial.
Imagina o dinheiro na tua conta bancária ou nas tuas poupanças. Com o aumento dos preços, consegues comprar menos bens e serviços com o mesmo montante. Em termos simples, o valor real do dinheiro diminui, afetando diretamente o teu dia a dia e as tuas decisões financeiras.
Quem é mais afetado?
Grupos como trabalhadores por conta de outrem e pensionistas são os mais vulneráveis à inflação. Enquanto empresários podem tentar repassar os custos mais altos para os seus clientes, quem depende de rendimentos fixos enfrenta maior dificuldade em ajustar os ganhos de forma proporcional ao aumento dos preços.
Para estes grupos, a inflação pode gerar desafios significativos:
Redução no orçamento familiar, forçando cortes em despesas essenciais.
Erosão das poupanças, tornando-as menos eficazes para atingir objetivos financeiros futuros.
Com os preços a aumentar, muitas pessoas sentem-se pressionadas a:
Reduzir as compras ou cortar em bens e serviços não essenciais.
Buscar investimentos mais arriscados na tentativa de manter ou recuperar o poder de compra.
Estas mudanças podem trazer consequências a longo prazo, especialmente se as escolhas forem feitas sem planeamento ou compreensão total dos riscos envolvidos.
O papel do Banco Central Europeu
O controlo da inflação é uma das prioridades do Banco Central Europeu (BCE). Quando a inflação sobe demasiado, o BCE adota medidas como aumentos nas taxas de juro para desacelerar a economia e conter os preços.
No entanto, essas medidas podem trazer outros desafios, como o aumento nos custos dos empréstimos e um impacto no crescimento económico.
Qual a influência da inflação no crédito à habitação?
A inflação tem um impacto significativo no crédito à habitação, influenciando tanto as taxas de juro como os preços dos imóveis.
Evolução da Euribor
A Euribor, que serve de referência para muitos créditos à habitação de taxa variável, tem registado variações nos últimos anos.
Em 2024, observou-se uma descida significativa, com a Euribor a 12 meses a situar-se em torno de 2,5% no final do ano. Para 2025, as previsões indicam uma estabilização ou ligeira descida das taxas. Por exemplo, o Bankinter estima que a Euribor poderá manter-se estável em cerca de 2,1% durante dois anos. Outras fontes apontam para uma Euribor a seis meses de 1,85% no final de 2025.
Impacto nos preços das casas
A inflação também afeta os preços dos imóveis. Com o aumento dos custos de construção e materiais, os preços das habitações tendem a subir. Em 2024, os preços da habitação em Portugal aumentaram 9,8% no terceiro trimestre. Para 2025, espera-se que esta tendência continue, embora a um ritmo mais moderado, dependendo da evolução da inflação e das taxas de juro.
Escolha entre taxa fixa e taxa variável
Num contexto de inflação e variação das taxas de juro, a escolha entre uma taxa fixa ou taxa variável no crédito à habitação torna-se crucial. As taxas fixas oferecem estabilidade nas prestações, protegendo contra possíveis subidas futuras das taxas de juro. Por outro lado, as taxas variáveis podem beneficiar de descidas nas Euribor, resultando em prestações mais baixas. Em 2025, prevê-se um aumento na procura por créditos a taxa fixa, devido à busca por maior previsibilidade em tempos de incerteza.
Considerações Finais
A inflação influencia diretamente o crédito à habitação, afetando tanto as taxas de juro como os preços dos imóveis. É essencial estar atento às previsões económicas e considerar cuidadosamente as opções de financiamento disponíveis, avaliando os prós e contras das taxas fixas e variáveis, para tomar decisões informadas e adequadas à tua situação financeira.