Investir o meu dinheiro: é uma opção ou obrigação?

Explicamos esta dicotomia, destacando a importância de investir não apenas como uma estratégia para aumentar riqueza, mas também como um meio essencial para proteger o teu poder de compra face ao efeito da inflação.

No atual contexto económico, marcado por incertezas e mudanças constantes, o tema do investimento torna-se cada vez mais relevante. 

A questão que se impõe é: investir é uma obrigação ou uma opção? 

Este artigo explora essa dicotomia, destacando a importância de investir não apenas como uma estratégia para aumentar a riqueza, mas também como um meio essencial para proteger o teu poder de compra face ao efeito devastador da inflação.

Investir é mais do que uma opção

Num mundo ideal, investir seria uma opção que todos poderiam fazer ou não, dependendo dos seus objetivos de vida e situação financeira. No entanto, a realidade é bem diferente. Com a inflação a corroer o valor do dinheiro ao longo do tempo, o que hoje pode parecer uma quantia significativa amanhã poderá não ter o mesmo valor. Assim, investir torna-se mais do que uma escolha: é uma necessidade para quem deseja preservar e aumentar seu património ao longo dos anos.

A inflação afeta o poder de compra

A inflação é muitas vezes subestimada nos seus efeitos a longo prazo. Ela reduz o poder de compra do dinheiro, significando que, com o mesmo montante, compraremos menos no futuro do que compramos hoje. Esse fenómeno não é apenas uma teoria económica, mas uma realidade que afeta todos, independentemente da classe social.

Descobre:

Mas o que é mesmo a inflação e como nos afeta?

 A inflação é um aumento geral e contínuo dos preços dos bens e serviços numa economia ao longo do tempo. Em Portugal, a inflação é medida pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC), que acompanha a variação dos preços de uma cesta de bens e serviços representativa do consumo das famílias portuguesas.

Esta foi a evolução da inflação nos últimos 30 anos em Portugal:

Inflação em Portugal - Últimos 30 anosFonte: BP Stat - Banco de Portugal

A inflação afeta os consumidores de várias maneiras:

  1. Redução do poder de compra: Como já referi, a inflação reduz o poder de compra do dinheiro ao longo do tempo. Isso significa que, com a mesma quantidade de dinheiro, as pessoas podem comprar menos bens e serviços. Por exemplo, se o preço dos alimentos, habitação, transporte e outros itens essenciais aumenta, os consumidores vão precisar de gastar mais para manter o mesmo nível de vida.

  2. Impacto sobre os rendimentos fixos: As pessoas que dependem de rendimentos fixos, como os reformados que recebem pensões, podem ser particularmente afetadas pela inflação. Se os preços aumentam, mas os rendimentos permanecem iguais, o poder de compra desses rendimentos diminui.

  3. Ajustes de salário e contratos: A inflação pode levar a ajustes salariais, nos quais os trabalhadores negoceiam aumentos salariais para compensar o aumento do custo de vida. Além disso, contratos de longo prazo, como arrendamentos, empréstimos e acordos comerciais, podem conter cláusulas de ajuste de inflação para proteger as partes contra perdas devido à inflação.

Investir torna-se uma ferramenta de empoderamento

Investir, portanto, não é apenas uma questão de multiplicar a riqueza, mas uma forma de lutar contra a erosão do poder de compra causada pela inflação. 

Através dos investimentos, é possível gerar retornos que não apenas compensam a inflação, mas também contribuem para o crescimento do património no longo prazo. No meu podcast "Investidores como Nós", discutimos essa realidade e mostramos que investir está ao alcance de todos, desmistificando a ideia de que é necessário ter já uma fortuna acumulada para começar a investir.

Aprofunda:

Ações e os outros investimentos em termos históricos

Este gráfico do livro “Stocks for the Long Run”, de Jeremy Siegel, mostra a evolução das várias classes de ativos entre 1802 e 2012.Índices totais de retorno real1 dólar investido em ações em 1802 transformou-se em cerca de 930 mil dólares em 2012. E desde 2012 para cá o índice S&P500, que contém as 500 maiores empresas cotadas dos Estados Unidos, valorizou 239%, pelo que os 930 mil dólares seriam agora 3,2 milhões.

Para comparação, 1 dólar investido em obrigações ter-se-ia transformado em 1.505 dólares, e 1 dólar investido em ouro seriam agora 3,21 dólares.

Tudo isto em termos reais, ou seja, depois de retirada a inflação.

Sabe ainda:

O pior investimento de todos, o mais miserável de todos, é mesmo deixar o dinheiro em… dinheiro. Nesse caso, o dinheiro vai perdendo poder de compra – por causa da inflação – e 1 dólar em 1802 vale cerca de 4 cêntimos agora, ou seja, desvalorizou 96%.

Em termos anualizados e novamente reais, ou seja, já tendo sido descontada a inflação, as ações deram um retorno médio anual de 6,7%, as obrigações de 3,5%, as bills (que são títulos de dívida de curto prazo) deram 2,7%, o ouro deu 0,6% e finalmente o dólar norte-americano desvalorizou 1,4% ao ano, que foi a taxa de inflação média no período considerado.

Deste gráfico ressaltam duas conclusões:

  1. É praticamente obrigatório investir;

  2. Investindo, o melhor ativo são as ações.

Vê também:

Uma obrigação com fundo estratégico

Portanto, investir não deve ser visto apenas como uma opção entre muitas, mas como uma estratégia fundamental para garantir um futuro financeiro sólido e protegeres-te contra a inflação.

Ao tomar a decisão de investir, não estamos apenas a escolher uma forma de gerar riqueza: estamos a optar por uma abordagem proativa para preservar o nosso poder de compra e assegurar a nossa qualidade de vida no futuro. Investir, em suma, é uma obrigação que temos para com nosso futuro “eu” e com a nossa segurança financeira.

Lembra-te: investir é para todos, e o momento de começar é agora.


Catarina Borja
Catarina Borja
Especialista em Investimentos